MANIFESTO DA BIOARTE - 1997
• A Bio Arte é a arte que literalmente trabalha no continuum da biomaterialidade, desde DNA, proteínas e células até organismos completos. A Bio Arte manipula, modifica ou cria vida e processos vivos.
• Ao manipular os processos biológicos, a Bio Arte intervém diretamente nas redes dos vivos.
• A vida tem uma especificidade material que não é redutível a outros meios.
• Sem intervenção biológica direta, a arte feita exclusivamente de acrílico, papel, pixels, plástico, aço ou qualquer outro tipo de matéria inanimada não é Bio Arte.
• Todos os materiais artísticos têm implicações éticas, mas são mais urgentes quando a mídia está viva. Defendemos uma Bio Arte ética: ética no que diz respeito aos humanos e não-humanos.
• Alguns bioartistas usam mídia viva para expressar preocupações humanas, enquanto outros bioartistas celebram organismos não humanos e nossas conexões com eles.
• A Bio Art não tem obrigação de tematizar temas que dizem respeito à biologia ou aos vivos.
• Confiamos no público da arte para reconhecer que, porque a Bio Arte está viva, toda a Bio Arte tem implicações políticas, sociais, culturais e éticas, sejam elas explicitadas ou não pelo artista.
• A Bio Arte desafia as fronteiras entre o humano e o não-humano, o vivo e o não-vivo, o natural e o artificial.
Nota: O próprio termo BIOARTE se expandiu desde que foi cunhado em 1997 pelo artista Eduardo Kac, junto com vários outros artistas. E este manifesto recapitula e reafirma questões abordadas nos trabalhos artísticos desde o início do movimento.
“Se o objetivo do cientista é interpretar o mundo, o do artista é representá-lo”.
Bioarte é uma prática artística na qual o meio é matéria viva e as "obras de arte" são produzidas em laboratórios e/ou ateliês por artistas e designers. É "arte inspirada na biologia". Por conta de não haver ainda significado codificado da bioarte, o meio e/ou gênero ainda estão por ser definidos. A Bioarte é um exercício temporão do século XXI para artistas que desejem aproximar ainda mais "artes e ciências". A Bioarte é difícil de apreender, pois assume uma forma diferente dependendo de cada artista. Por isso é mais fácil estudar o fenômeno caso a caso.
Pioneiros da BIOARTE
Eduardo Kac
George Gesserf
Marta de Menezes
Oron Cattis
Marion Laval-Jeantet
Benoît Mangin
Paul Vanouse
"Move 36" explora as fronteiras permeáveis entre o humano e o não-humano, o vivo e o não-vivo. O título de "Move 36" refere-se ao dramático movimento de xadrez feito pelo computador Deep Blue contra o campeão mundial Gary Kasparov em 1997 - uma partida de xadrez entre o melhor jogador que já existiu e o melhor jogador que nunca existiu. A obra inclui uma planta, especialmente criada para a obra, que utiliza o código universal do computador (chamado ASCII) para produzir um gene "cartesiano", ou seja, uma tradução da afirmação ontológica de Descartes "Cogito ergo sum" em um gene. À medida que os espectadores entram no espaço, eles veem um tabuleiro de xadrez feito de areia e terra, ladeado por projeções digitais que evocam os jogadores à revelia. A planta está enraizada justamente no quadrado onde o computador derrotou o humano, ou seja, onde o "movimento 36" foi feito. Edição da 3. Coleção Alfredo Hertzog da Silva.
Cápsula do Tempo - 1997
Cápsula do Tempo, de Eduardo Kac, foi realizado em 11 de novembro de 1997, na Casa das Rosas, centro cultural de São Paulo, Brasil. Abordou o problema de interfaces molhadas e hospedagem humana de memória digital através da implantação de um microchip. O trabalho consistia em um implante de microchip, sete fotografias em tons de sépia, uma transmissão de televisão ao vivo, um webcast, webscanning telerobótico interativo do implante, uma intervenção de banco de dados remoto e elementos de exibição adicionais, incluindo um raio-X do implante. Foi no contexto deste trabalho que Kac cunhou o termo "Bio Art". Coleção New Art Foundation, Reus, Tarragona, Espanha.
Fonte de pesquisa: Soundoflife
Obs: Os bioartistas geralmente tentam tornar visíveis coisas que não são acessíveis a nós. A falta de interesse público não significa que o desempenho artístico não seja válido, mas a maioria deles permanece totalmente confidencial e conduzem suas pesquisas por conta própria. O que significa que a liberdade de criação é completa; que a meu ver: é o que interessa para o mundo da arte.
Homem vitruviano, leonardo da vinci, Bio Art
O sistema educacional globalmente, há anos, distingue arte e ciência como dois campos de especialização fundamentalmente distintos e incentiva a noção de que as duas disciplinas veem o mundo de maneiras diametralmente opostas. Com a humanidade dando passos significativos em direção a um futuro tecnologicamente mais avançado para satisfazer a aspiração humana por felicidade e bem-estar, essa ideologia rígida é tudo menos arcaica. No entanto, a colaboração entre arte e ciência remonta a séculos, sendo as obras de Leonardo da Vinci os exemplos mais conhecidos.
Nota:
Estou defendendo uma tese de mestrado sobre a Bioarte, e preciso reunir contribuições de alguns dos artistas nacionais mais marcantes da Bioarte, bem como de estudiosos nas áreas da medicina, das ciências sociais e da literatura. Se você, for um bioartista, por favor entre em contato comigo no e-mail: lauraeartes@gmail.com. Quem sabe podemos produzir um material publicável aqui no meu blog? Seria ótimo (já que aqui no Brasil os bioartistas são tão pouco divulgados). O meu objetivo principal é o de dar conta de alguns dos trabalhos (brasileiros e aqui no Brasil) mais expressivos na intersecção da arte com as ciências da vida e com a biotecnologia, bem como do seu significado biológico, artístico, filosófico e social. A ideia é abolir de vez as fronteiras entre arte e ciência. E de que não há absolutamente nenhuma razão para que a prática artística não seja tão precisa, justa e rigorosa quanto a prática da ciência." Além disso, a Bioarte embaraça (as vezes) as linhas entre arte e biologia, o que pode levantar questões filosóficas e ambientais que desafiam o pensamento científico e artístico. (Laura Moreira)
Homenageando Eduardo Kac
INSETO DESPERTO (DE Eduardo Kac CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR O VÍDEO) (Duration: 29''Technical details: Digital Video)
Fonte: Ekak | Biopoetry
O biopoema "Erratum I" é o que Kac chama de "biótopo", ou seja, uma obra viva que muda em resposta ao metabolismo interno e às condições ambientais, incluindo temperatura, umidade relativa, fluxo de ar e níveis de luz no espaço expositivo. É literalmente uma ecologia autossustentável composta de incontáveis seres vivos muito pequenos em um meio de terra, água e outros materiais. Kac orquestra o metabolismo dessa vida microbiana diversificada para produzir a obra viva em constante evolução, um poema que evolui e eventualmente se apaga para gerar formas novas e imprevisíveis.
Frases famosas do Eduardo Kac
- “A arte do futuro será viva, como você e eu.”
- “E se pudéssemos realizar o sonho supremo da arte e realmente criar vida biológica?”
- “A Bioarte não é a arte “inspirada” na biologia e sim arte que literalmente cria ou manipula a vida. Ou seja, pinturas que representam moléculas não são Bioarte. A Bioarte não é representacional; a Bioarte é presentacional, presencial.”
- “A verdadeira arte sempre redefine seus parâmetros, coloca em xeque seus estatutos, ultrapassa barreiras historicizadas e códigos assimilados.”
- “E se a Poesia pudesse ser criada com uma sintaxe de eventos disruptivos, explorando a linguagem escrita além da linearidade e rigidez que caracterizam sua forma impressa?”
- “Não me vejo como um artista pesquisador, mas como um artista contemporâneo. Da mesma forma que um pintor precisa comprar tinta para pintar, eu acesso o laboratório de engenharia genética para criar.”
- “Em um mundo de clones, quimeras e criaturas transgênicas, é hora de considerar novas direções para a poesia ‘in vivo’.”
- “Um dos mais intrigantes e fascinantes estilos de trabalho holográfico se dá em torno da modulação de estruturas luminosas em que a própria luz é controlada como uma nova mídia visual. Na holografia, a arte da luz em movimento desprovida de referencialidade adquire caráter próprio.”
- “E se a arte pudesse se tornar uma experiência dialógica na qual indivíduos remotos se interligassem em todo o mundo através da rede que projetaria sua presença à distância através de telerrobôs?”
Eduardo Kac é reconhecido internacionalmente por seu trabalho inovador em arte contemporânea e poesia. No início dos anos 1980, Kac criou trabalhos digitais, holográficos e online que anteciparam a cultura global em que vivemos hoje, composta por informações em constante mudança em fluxo constante. Em 1997, o artista cunhou o termo "Bioart", iniciando o desenvolvimento desta nova forma de arte com suas obras.